top of page

natureza cúbica

 

OAPs são Objetos de Aprendizagem Poética que Sofia inventa, coletando sobras, pequenos pedaços de madeira em canteiro de obras. O que faz uma mulher num espaço masculino? E Sofia os corta, perfura, empilha e dobra, recicle em seu pequeno ateliê de marcenaria, um quartinho nos fundos da casa de mainha, todo um Nordeste popular e afetivo já aí contidos. O ateliê da artista é um espaço vivo, que se contradiz aos destroços das madeiras, dos canteiros de obras de homens, espaço que contém as florestas que foram e que insistem, recriando vida com a chegada das lagartas que criam seus casulos em meio a seus destroços, e eclodem no voo das borboletas.

 

Sofia brinca de recriar florestas, tornando flexíveis a rigidez do tronco, tornando geométricas as florestas invisíveis que sustentam a cidade modernista.

Sua arte é lúdica e interativa, serve para dançar e para brincar; e serve para pensar e para chorar pelas matas caídas, serve para causar espanto: como pode uma pessoa árvore, um ser milenar, caber na palma da mão?

Cada dobra dura uma assemblagem, uma árvore. Cem dobras duras uma floresta, um políptico, uma policultura. Sofia flexibiliza o que originalmente não se enverga, aquilo que quebra. Tronco vira corpo, movimento, com as dobras maleáveis e suas fissuras, seus veios e veias, seus entremeios, sua selva, seu sangue. Como mulher.

Sofia adota florestas.

Texto: Lélia Lofego

© 2035 by Ann Young. Powered and secured by Wix

bottom of page