Ando pela cidade, colho, cato e coleciono seus detritos. Crio categorias para esses dejetos; caixas que se empilham, madeira em cubos, pedaço de lata, pedras de diferentes formatos, paletes, escadas criadas em canteiros de obras. Vivo com esses detritos; toco-os, desarrumo, monto, crio assemblages entre eles. Proposições poéticas que pensam acerca do território da América Latina, nossas cidades, sociedades, histórias e formas de organização. O olhar atento me move por essas espacialidades e busco com elas suas contradições por aquilo que guarda os objetos descartados, que histórias nos contam.
O que antes era descarte, agora vira outro tipo de proposição. Aquilo, antes lixo, se torna agora um objeto que auxilia na interação com o outro. É o que está no entre; de mim e dele. Essas pesquisas criam espaços de colaboração, lugares de trocas coletivas, agenciamentos que ocorrem quando o eu encontra o outro dentro de um espaço de descontração, de brincadeira. Quando estamos inseridos nesses lugares, entendemos as individualidades a partir dos compartilhamentos, das proximidades e distanciamentos.
“Dobra-duro” vêm do palete, esse material rígido que serve de sustentação para canteiro de obras, criando prédios e participando da efemeridade com que as cidades se transformam e se gentrificam. As dobradiças despertam então a contradição: ao levantar esse material, ele cai, se dobrando inteiro. Sua rigidez dá lugar à fluidez que a matéria ganha a partir da união das suas partes por dobradiças que permitem sua mobilidade. Cria-se então, dentro de um cotidiano duro, a possibilidade de despertar relações orgânicas em diversas camadas, compartilhando espaço com a organicidade dos corpos.